quarta-feira, setembro 24, 2008

de onde vem a força?

Há momentos que tudo se move ao mesmo tempo
tudo cai, tudo derrama, tudo muda de lugar
e não estamos atentos, quanto mais preparados
para o movimento da crosta terrestre.
Não há como salvar o mundo
nem com a minha ajuda,
nem com a sua.
Os pratos quebram, o leite derrama
as paredes somem
o coração espreme-se em lágrimas.
E nós ficamos ali, inertes, por pura incapacidade,
a carregar a dor a tiracolo.
Fechamos os olhos na espera que o monstro desapareça
mas não resulta
Adormecemos na esperança de um novo dia
mas o dia amanhece no mesmo indesejado gris
Tentamos até jogar tudo para o alto,
mas a gravidade e sua força nunca nos salvam nestes casos.
Repito, nunca.
Mas eu estou firme mesmo sem paredes
E embora afogado, ainda respiro. E muito.

Pois sobrevivemos apesar de correnteza contrária
apesar da força excessiva que fizemos para remar,
sobrevivemos sempre.
E há uma força estranha em somente sobreviver
por mais desfigurados que tenhamos ficado.
Queiramos ou não, o sol aparecerá em brilho novo
e voltaremos a enxergar com mais verdade.
Mas não nos enganemos com o mundo de amanhã.
Mesmo em tudo que nos é inédito há a memória daquilo que outrora amamos
E é daí que vem a força
Sem qualquer motivo aparente
há uma força que sempre vem.
Uma força em você que faz tudo mudar
que sempre tentará colocar tudo de volta no lugar, mesmo sem encaixar.

Mesmo quando não houver mais paredes, nem chão ou céu
Incompreensivelmente é a tristeza que nos fará felizes
Pois ela será o testemunho da felicidade que vivemos juntos.

(para "you know who you are")

quarta-feira, setembro 17, 2008

A Costela de Adão

Moldei-te no meu imaginário
e encaixei o molde em meu coração
Não precisas de chave, senha ou consentimento
Quando eu te ver, saberás o quanto sou tua
Há outros que tentam explicar como isso acontece
eu nego qualquer explicação
Serei tua amante necessária
no momento que fixares os olhos em mim.
Se de alguma costela fui formada,
saberei naquele exacto momento que foi a tua
e teu corpo exigirá de volta o que a inocência dispensou.
Se queres a costela, meu senhor sempre amado,
terás de aceitar meu coração
e meu olhar e minha gargalhada
E pedirás por mais, pois eu sei
que o que tenho para dar-te não é suficiente
Oxalá nunca será
Pois o que tenho é incomensurável
insaciável e infinito
Mas venhas logo
Apareças logo
Senta-te logo
Pois há um fogo em mim que me consome
desde que comecei a te amar.

Poema de Amor

Odeio-te!
Mais do que odiar-te
odeio o lado da minha cama que não dormes
a assombrar-me sempre que acordo
odeio o travesseiro sem teu cheiro
e a desnecessária mania de aconchegá-lo
Odeio a toalha que não te secas e os teus chinelos dentro do armário
a espera que algum dia voltes a usá-los
Odeio o teu lugar vazio no cinema e a tua falta de comentários
e o teu número de telefone que não uso quando quero,
Odeio ter de encontrar motivos para usá-lo
Odeio motivos para falar contigo
quando antes eras todo o motivo que eu tinha
Odeio ouvir músicas que ouvi contigo
sem saber o que fazer com o que sinto ao ouvi-las
Odeio a porta da minha casa que não se abre
nem antes e nem depois de eu chegar
Odeio que as pessoas ainda vejam-te em mim
Odeio que as pessoas não te vejam em mim
Odeio sufocar-me todos os dias com a tua ausência
Odeio tua ausência ser completa
Odeio-me a amar-te completa e ausentemente.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Amores Felinos

Ás vezes, podes não perceber,
Mas tenho muito medo de mim.
Adoro-me como sou,
mas há contornos meus que nem eu gosto, intrínsecos
e sei que os vês.
Tenho medo de me domesticar,
mas às vezes isso é preciso
pelo bem do amor amigo.
Queria saber ser diferente.
Até sei, repetidamente.

Por outro lado,
adoro-te inconstante,
embora eu erre no vocabulário
e talvez no tom,
é mais curiosidade que crítica.
Como o gato que arranha para descobrir,
mas às vezes machuca.