O Brasil é um país próspero. Nossa patria amargamente amada, onde tudo que se planta infelizmente cresce.
Plantamos ganância e colhemos corrupção. Plantamos indiferença, colhemos violência.
Plantamos leis dúbias e furadas, colhemos impunibilidade. Plantamos enriquecimento, colhemos desníveis sociais
Plantamos desrespeito, colhemos ódio. Plantamos anafalbetismo, colhemos pobreza.
Plantamos ganância, colhemos corrupção.
Plantamos irresponsabilidade, não colhemos nada.
O Brasil não é mais o país do futuro. É um país de ficção perigosamente real. É o país do faz-de-conta, onde tudo pode acontecer por baixo dos panos. Onde as pessoas são assaltadas, assassinadas, violadas, injustiçadas bem debaixo das nossas barbas e memos assim viramos para o lado, como se ao lado não fosse acontecer nenhuma desgraça. Mas a verdade é que acontece.
A verdade é que temos medo de sair à rua. Temos medo de ficar em casa e medo pelos que amamos. Temos medo de não chegar ao fim do mês com o nosso salário, medo de, de repente, não termos mais salário. Temos medo de não haver leito em hospital quando precisarmos, do dinheiro não chegar para os nossos medicamentos, medo das cláusulas de exclusão do nosso plano de saúde. Medo de não poder mais pagar o plano de saúde e depender da saúde pública. Temos medo de terminar a escola e começar uma carreira, porque as faculdades para os carenciados são para os ricos e as que custam uma exorbitância não nos preparam para nada. As universidade abarrotam e temos medo de sobrar na seleção final. Temos medo de nos formar e o canudo não abrir porta alguma. Temos medo das escolas públicas pelas greves constantes, e medo das particulares pela exagerada mensalidade. Temos muito medo e não fazemos nada.
Assistimos a tudo ao vivo e a cores. Pagamos, e caro, para manter no poder pessoas que se auto-intitulam políticos, mas que de política não sabem nada. Pseudo-políticos que adoram aumentar o próprio salário e fingir que trabalham quando trabalham. Pseudo-políticos que quando tem de decidir, nada decidem. Pagamos pelo nepotismo, pela ingovernabilidade e pelas CPI's que nem para entreter servem. Votamos por falta de escolha, elegemos por aparência, fazemos campanha não porque acreditamos, mas porque sairemos lucrando. Sabemos que temos um sistema partidário corrupto, um colégio eleitoral falido, uma distribuíção de poderes desnivelada. Sabemos tudo isso e nada fazemos.
O Brasil não terá solução enquanto acreditarmos que resolve andar de carro com a janela fechada. Que dizer não a quem nos pede dinheiro na rua é a única forma de ajuda que nos resta. Que condomínio fechado é sinônimo de segurança. Enquanto acharmos normal termos menos liberdade em prol de nos sentirmos mais seguros. Enquanto acreditarmos que novelas e Big Brothers são cultura para o povo. Enquanto igrejas monopolizarem todos os canais de informação, enquanto acreditarmos mais na fé do que na cidadania. Enquanto considerarmos normal viver com medo. Enquanto esperarmos horas e horas por um avião que não parte e não podermos nem esperar sentados. Enquanto acharmos que tudo tem solução e que tudo acaba se ajeitando no final.
Acreditando nisso é o caminho para o horror. Acreditarmos que está tudo bem, ou não estando, que não podemos fazer nada, faz com que mais políticos roubem, mais ladrões surjam, faz aumentar a impunidade e a pobreza, faz com que não confiemos nos serviços públicos, na saúde pública, na educação pública, no transporte público, enfim, faz com que não confiemos em nada público. E, pior de tudo, faz com que tenhamos de nos horrorizar com um menino a ser arrastado até a morte por um carro roubado ou por 200 pessoas morrerem na explosão de um avião que embateu num angar por fatores alheios, por um detalhe, por um descuido. Descuido esse que poderia ter sido evitado se tivéssemos prestado mais atenção. Se tivéssemos gritado mais alto. Se tivéssemos agido mais cedo.
Enquanto nos horrorizarmos, ainda há esperança. Mas só isso não basta. Temos direitos e esses direitos devem ser garantidos e defendidos a todo o custo.
Queremos não um país do futuro, mas um país do agora, um país que nos dê orgulho de sermos brasileiros. Queremos saber o que é ser brasileiro. Sentir orgulho ao dizer que somos brasileiros. E ,de um vez por todas, fazer com que o mundo saiba o orgulho que é ser brasileiro.
Cláudio R. D. Carneiro (direto do próprio exílio)