segunda-feira, março 19, 2007

Cada um para o seu canto, outra vez.

Ela fechara-se em algo, há anos atrás. Poderia chamar-lhe de seu mundo, mas não podemos nomear o que não conhecemos. Ela trancara-se em seu quarto, ou na sua contínua rotina de adquirir mágoas. Seus entes mais próximos não sabiam o que dizer ou o que não dizer quando ela estava presente. Tudo era guardado, colecionado para transformar em tijolo para o seu muro. Eram eles, seu mais próximos, a causa de tal distanciamento ou apenas tentavam lidar com alguém que não se aproximava mais? Eles agiam com ela como agiam com qualquer um ou não? Quem tinha feito o que antes?

Por que ela seria diferente dos outros? Por que não teria a força de separar o que prestava do que não tinha valia nenhuma? Por que não era capaz de fabricar suas próprias defesas em vez de seus próprios refúgios?

Seu filho sempre desencadeava as reações a que ele chamava de tsunami. Chamava-os assim porque antes estava tudo calmo, e antes da grande onda que devastaria tudo, sentia as emoções se retraírem, o mar recuar, como que tomando força para se jogar sobre tudo e todos logo a seguir.

Ele convencera-se que sua mãe não se aproximava mais. Mesmo na distância de dois mundos, a força da saudade, que poderia ser a a impunsionadora do fim de todas as barreiras, era ,pelo contrário, a força para a fundação de mais um muro. Nas conversas triviais eram cortinas, e nas mais profundas eram silêncio.

E isso ele cobrava dela e ela cobrava dele. Acusavam-se um ao outro dos crimes que ambos se culpavam. A culpa bumerangue por uma deficiência não assumida.

segunda-feira, março 05, 2007

Mind the Gap

Sexta feira fui assistir ao filme Diário de um Escândalo ( ao qual eu insisto em chamar Segredos de um Escândalo). O filme é bom, mas saí do cinema com uma sensação de ter visto só a primeira parte do filme. Bem, mas não é isso que vim aqui falar. A certa altura, no filme, a personagem da Cate Blanchett confessa a Judi Dench que ela têm uma família e casamento perfeito, mas que há momentos que parece que não era nada daquilo que era queria. Ela pensava que seria alguém importante, alguém que faria a diferença, e relembra um conselho que o pai dela sempre dava: Mind the Gap. Ou seja, estar atenta a distância existente ao que sonhas para a tua vida e no que ela realmente se torna. Essa frase foi fortíssima, pois nas últimas semanas era justamente sobre isso que tenho estado a pensar e a resmungar aos meus amigos. Eu sempre pensei que seria alguém importante, e muitas vezes previram isso para mim, e esse destino até agora não aconteceu. E eu já começo a me preocupar que o momento em que eu devia ter subido, ou descido, na estação certa, do comboio do meu destino, já tenha passado. Espero que não. Espero que destino seja destino e não se possa mudá-lo. Como a minha mãe costumava me falar várias vezes e todas as vezes com o meu desdém: "A hora não é antes da hora, nem depois da hora. A hora é na hora."